31 de mar. de 2009

A saga da mandioca

Desde que cheguei em terras catalanas, é difícil passar um dia em que não pense em coisas e pessoas que ficaram no Brasil. Saudosismo, que chama! E no reino alimentício, a farinha de mandioca está na lista dos tops!

O desespero de não poder comer farofa é tanto, que já busquei possíveis vendedores pela internet, vasculhei clubes de gourmets em Barcelona, mercados e nada! Num ato de pré-suicídio, enviei um email para o serviço de atendimento ao consumidor da Yoki (e nem é A marca que eu gosto) para saber se havia algum lugar onde podia encontrar o bendito farináceo.


Por incrível que pareça, responderam e passaram um contato existe: um distribuidor de farinha de mandioca e outras maravilhas (suco de maracujá, polpa de pequi, carne seca, polvilho, etc etc etc), que ficava em Madri. Tudo bem... pagar frete de Madri até aqui é mais barato que fazê-lo do Brasil.

Mandei um e-mail para a bendita distribuidora. E, enquanto a resposta não vinha, sonhava com as farofas que iria fazer (ovo, bacon, farofa fria de cenoura) e delirava em fazer pão de queijo. Minha felicidade durou apenas três dias, quando recebi a resposta dizendo que só comercializam para empresas e que eu podia encontrar esses produtos em qualquer "tienda" de alimentos latinos na minha cidade.

Alooooooô? Qual a parte do NÃO ENCONTRO EM LUGAR ALGUM a mulher da distribuidora não entendeu??? Nem para me dizer quem era cliente dela em Barcelona, por exemplo... Definitivamente, a solidariedade para com o próximo está em cheque no mundo atual!

Resultado parcial do conflito: vida cheia de tortilla 1 x 0 farofa e pão de queijo

23 de mar. de 2009

Almodóvar - esperado e inesperado

Espero a estréia desse filme há meses... para ser sincera, desde que cheguei à Espanha e me inteirei que estava prevista para 19 de março. Carrego um gosto por Almodóvar que não é novo e independe de fases. É difícil descrever, mas creio que seus filmes me falam à alma, exagerados e desmedidos, mas sempre imbuídos de uma delicadeza e de uma devoção de sentimentos que (para mim) ninguém retrata com tanta "naturalidade". Suas obras são cheias de paixão e ir ao cinema para ver Almodóvar é ir emocionar-se.



Não foi diferente com Los Abrazos Rotos, a produção mais cara da trajetória do diretor espanhol. Uma história de amor marcada pela tragédia, intensa e que carrega um lado mais thriller e noir
(como comentou o próprio Almodóvar no dia da estréia). O guión, dessa vez, tem um fio condutor que também passa por personagens masculinos de destaque (algo não muito usual na filmografia do diretor) e surpreende pela qualidade da trama. É engraçado não ver a tão típica histeria feminina (ou, pelo menos, não vê-la no lugar habitual).



Não quero entrar em detalhes sobre o filme, para não roubar parte das sensações de quem ainda não viu. Por aqui, há quem diga que Pedro Almodóvar perdeu a crítica, o tempo da comédia e a irreverência. Que se tornou comercial e hollywoodiano. Eu sigo dizendo e acreditando que experimenta uma maturidade deliciosa.

19 de mar. de 2009

Quebra-pau

Ontem, a disputa política entre o PP e o PSOE, a sucessão no País Basco e os passos de Zapatero deram lugar, nos telenoticiários, à repressão aos estudantes que ocupavam o campus da Universidade de Barcelona (UB) desde fim de novembro (em protesto ao Plan Bolonia, uma medida que pretende adaptar a educação superior da Espanha aos padrões do espaço europeu). A polícia apareceu por lá agindo a cacetetes, cenas que vi e revi em Juiz de Fora (Reuni); e o balanço final foi mais de 50 feridos, entre estudantes e policiais.




(fotos EFE Toni Albir)

Os estudantes estão fulos da vida porque o Plan (que deve ser implantado até 2010) transforma em grado 3 de 4 carreiras superiores da UB. Traduzindo: seria preciso estudar cinco anos para ter uma carreira. Isso é para que a educação superior na Espanha se iguale em condições a outros pontos da Europa, como Londres e Holanda, e que o diploma passe a ser aceito em toda a União Européia. Os protestos falam da falta de negociação no que toca financiamentos de mestrado e especializações, e de uma abertura à privatização das universidades.

Acho que já ouvi isso em algum lugar!

16 de mar. de 2009

As surpresas de Besalú

O inverno por aqui começa a perder força. Segundo os telejornais, já estamos vivendo uma primavera antecipada. O resultado disso é dias mais quentes, ensolarados e agradáveis. Pensa comigo: se o fim de semana está batendo na nossa porta, tem como não sair para passear? Obviamente que não.


No domingo que passou, Albert escolheu que o destino seria passear pela costa. O Mediterrâneo está com águas de cor azul claro e a luz é tanta que prolonga ainda mais o horizonte! Lindo! Mas como sempre acontece, uma coisa leva a outra e resolvemos seguir pelo interior... até chegar a Besalú, que não era exatamente onde queríamos chegar, mas que, num bom português, saiu melhor que encomenda! Situando geograficamente, Besalú está no extremo leste do país, a cerca de 25km de Girona, pertinho pertinho do sul da França.

Seus menos de 5km2 são cheios de história e, apesar de bastante visitada pelos turistas, a cidade conserva o ar de tranquilidade de séculos e séculos atrás. Sim! Besalú é um povoado medieval, que, em 1966, foi declarada Conjunto Histórico-Artístico Nacional por seu grande valor arquitectônico. E é só chegar à cidade para começar a ser transportado no tempo. As primeiras vistas são uma imponente igreja de pedra, rodeada de casas que corpartilham do estilo.


Então é começar a caminhar pela
s ruas estreitas e sinuosas para descobrir paisagens ainda mais instigantes (leia-se: um rio pedregoso, com uma ponte digna de livro de história e um castelo ao fundo, no topo de uma montanha). Não pude evitar entrar no google e pesquisar sobre a história do povoado, que um dia foi chamado Bisuldunum - uma fortaleza entre dos rios: o Fluviá ao sul e o Capellades ao norte.


Em minhas buscas, descobri que o traçado atual da vila não é fiel ao original (nos idos do século X), mas definitivamente possibilita uma leitura da urbanização da Idade Média, com a ponte, os baños judíos (que não vimos), a Igreja do Monastério de San Pedro e y San Julián, o antiguo hospital de peregrinos (que não vimos), a casa Cornellá, a Igreja de San Vicente y a Sala gótica do Palacio de la Curia Real (que não vimos). Tá, tá. Sei que deixamos de ver muita coisa, mas se tem algo que prezamos é priorizar a qualidade, ou seja, ver pouco mas ver bem. Ficamos tão surpresos que já planejamos voltar, talvez na Semana Santa, para estar mais tempo, aproveitar os cafés e as tabernas, e quem sabe seguir descobrindo o entorno. Uma boa, não?